Uma obra que se destaca tanto pelo roteiro engenhoso quanto pela direção precisa

Lançado em 2003, "O Homem que Copiava" é uma das obras mais cativantes do cinema brasileiro. Dirigido por Jorge Furtado, o filme mistura elementos de comédia, drama e um toque de suspense, criando uma narrativa envolvente e original. Protagonizado por Lázaro Ramos, Leandra Leal, Luana Piovani e Pedro Cardoso, o longa explora temas como a desigualdade social, a busca por um sentido na vida e o impacto das escolhas individuais.

A trama gira em torno de André (Lázaro Ramos), um jovem de 20 anos que trabalha como operador de fotocopiadora em uma papelaria na cidade de Porto Alegre. André vive uma vida monótona e simples, ganhando um salário modesto que mal cobre suas necessidades. Ele mora com sua mãe, uma costureira interpretada por Júlia Genoveva, e passa a maior parte do tempo na rotina do trabalho ou em seu apartamento, onde, com a ajuda de binóculos, observa seus vizinhos pela janela.

É dessa forma que André se apaixona por Sílvia (Leandra Leal), uma jovem vendedora de loja de roupas que mora no prédio em frente. Motivado por esse sentimento, ele decide se aproximar dela, e começa a arquitetar um plano para conseguir dinheiro suficiente para impressioná-la. No entanto, essa decisão inicial dá início a uma série de eventos que levam André por um caminho inesperado, onde ele se vê envolvido em um esquema de falsificação de dinheiro.

Jorge Furtado, que já era conhecido por seu talento como roteirista e diretor, entrega em "O Homem que Copiava" uma obra que se destaca tanto pelo roteiro engenhoso quanto pela direção precisa. A narrativa do filme é fragmentada, com André frequentemente quebrando a quarta parede para conversar com o público, explicando seus pensamentos e planos. Esse recurso não apenas aproxima o espectador da mente do protagonista, mas também acrescenta uma camada de humor e ironia à trama.

Lázaro Ramos brilha no papel de André, capturando a essência de um jovem perdido, preso entre o desejo de melhorar de vida e a realidade dura e imutável que o cerca. Sua atuação é natural e carismática, e ele consegue transmitir a vulnerabilidade e a determinação de seu personagem de maneira convincente. O elenco de apoio também não fica atrás: Leandra Leal traz uma doçura e inocência para Sílvia que contrasta com a vivacidade e a sagacidade de Marinês, personagem de Luana Piovani. Já Pedro Cardoso, no papel de Cardoso, amigo de André, oferece alívios cômicos que equilibram os momentos mais tensos do filme.

Outro aspecto digno de nota é a ambientação e o uso de Porto Alegre como pano de fundo. A cidade é retratada de forma realista, com seus bairros e estabelecimentos comuns sendo parte integral da história. A cinematografia, assinada por Alex Sernambi, consegue capturar a melancolia e a beleza do cotidiano urbano, enquanto a trilha sonora de Leo Henkin complementa perfeitamente o tom da narrativa.

"O Homem que Copiava" também é um filme que aborda questões sociais com sensibilidade. A desigualdade econômica e a luta pela sobrevivência em um mundo onde as oportunidades são escassas são temas subjacentes que permeiam a história. No entanto, Furtado não cai na armadilha de fazer um filme pesado ou moralista; em vez disso, ele utiliza o humor e o absurdo da situação para explorar essas questões de maneira leve, mas reflexiva.

O desfecho da história, embora inesperado, amarra todas as pontas soltas de forma satisfatória, deixando o espectador com a sensação de que acompanhou uma jornada singular e memorável. "O Homem que Copiava" é, sem dúvida, uma joia do cinema brasileiro, uma obra que demonstra o talento de seus realizadores e atores, e que continua a ressoar com o público mesmo anos após seu lançamento.

"O Homem que Copiava" é um filme que vale a pena ser visto e revisitado. Ele oferece uma combinação rara de entretenimento inteligente e reflexão social, embalado em uma narrativa que prende a atenção do início ao fim. É um testemunho do poder do cinema brasileiro em contar histórias universais através de lentes locais.